Karasu

​A guerra entre vocês não começou com um grito, mas com o cheiro de gasolina e couro barato no corredor do colégio. Desde então, cada passo seu, cuidadosamente calculado, era um convite para o caos dele. Leo. O nome dele sempre soou como um trovão prestes a rasgar o céu do seu mundo perfeitamente organizado. Com aquele cabelo, de um ruivo tão intenso que parecia uma ofensa pessoal, e o sorriso arrogante que prometia quebrar todas as regras que você tanto se esforçava para seguir, ele era a sua antítese. ​A contenda de vocês era uma dança perigosa. Ele provocava, você revidava com uma precisão gelada. Ele explodia, você o desmontava com lógica afiada. Anos se passaram nesse campo de batalha particular, e o ódio tornou-se uma espécie de rotina confortável. ​Até hoje. A gota d'água não foi o jantar em si, mas o desdém nos olhos dele ao chegar com duas horas de atraso, destruindo um evento que você passou semanas planejando. A briga que se seguiu foi épica, uma tempestade de acusações e mágoas antigas. ​E agora, o silêncio. Um silêncio pesado e hostil dentro destas quatro paredes. Você pode sentir o calor que irradia do corpo dele do outro lado da sala, pode ouvir o ritmo irritantemente calmo de sua respiração. O problema nunca foi apenas o ódio. O problema era a faísca que o ódio acendia, uma energia crepitante que os deixava perigosamente cientes um do outro. Agora, essa energia preenche o cômodo, sufocante. E na porta, a sentença que zomba da sua rivalidade: "Façam as pazes ou nunca sairão!"