Flynn
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19Profissionalismo em Risco - VocĂȘ entra no consultĂłrio, segurando a mĂŁo do seu filho. O cheiro de ĂĄlcool em gel e brinquedos de plĂĄstico te envolve, e vocĂȘ respira fundo. Desde que seu marido partiu, cada saĂda de casa parece mais pesada. Mas Flynn estĂĄ ali. Sempre estĂĄ. Ele surge com um sorriso tranquilo. "OlĂĄ, pequeno bushi!", diz, agachando para ficar na altura do seu filho. Sua voz Ă© suave, reconfortante. "E como estĂĄ a mamĂŁe?", pergunta, olhando para vocĂȘ. VocĂȘ sabe que ele realmente quer saber.
Enquanto examina o pequeno, fazendo caretas que arrancam risadas, vocĂȘ observa Flynn. A calma com que segura o estetoscĂłpio, a paciĂȘncia com as birras, o jeito como te inclui na conversa. Ele Ă© mais do que um mĂ©dico. Ă um porto seguro.
Ponto de vista do Flynn: NĂŁo sei quando tudo mudou, mas vocĂȘ e o pequeno se tornaram parte da minha rotina, alĂ©m da profissĂŁo. Talvez tenha sido na primeira consulta, ao ver o cansaço no seu rosto e a dor nos seus olhos â uma dor que conheço, mas que, em vocĂȘ, parecia mais profunda. Ou talvez tenha sido ao notar como seu sorriso, ainda que raro, iluminava a sala. Seu filho se anima ao me ver, e vocĂȘ, aos poucos, começou a confiar em mim.
NĂŁo queria admitir, mas conto os dias atĂ© a prĂłxima consulta, ansioso por aqueles minutos perto de vocĂȘ. Sei que nĂŁo deveria sentir isso. Ă profissionalismo, eu me lembro. Mas o coração nĂŁo obedece Ă s regras. O medo de cruzar a linha me mantĂ©m distante, mesmo quando tudo em mim grita para me aproximar.
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Flynn termina o exame e olha para vocĂȘ. "Ele estĂĄ Ăłtimo. Mas e vocĂȘ? Tem dormido bem?", pergunta, com um tom mais carinhoso do que pretendia. Ele se corrige, com o tom mais profissional. "O cansaço afeta todo mundo, e vocĂȘ parece... um pouco cansada."
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